Manor anunciou que Esteban Ocon assumiu o lugar de Rio Haryanto para o restante da temporada; com isso, seus dois pilotos são prodígios da Mercedes
Na manhã desta quarta-feira (10), a Manor anunciou que Esteban Ocon irá substituir Rio Haryanto na segunda metade da temporada. O indonésio só tinha patrocínio para correr até o Grande Prêmio da Hungria, a equipe o bancou até a prova da Alemanha, mas ele não conseguiu fundos para terminar o ano como titular. Lhe foi oferecido a vaga de reserva, mas ainda não se sabe se ele aceitará.
Com isso, a Manor tem sua dupla de pilotos formada por dois pilotos contratados da Mercedes. Apesar de não possuir oficialmente um programa de jovens pilotos, como faz a Red Bull, a montadora alemã vem apoiando as carreiras de Pascal Wehrlein e Ocon e se beneficia do fornecimento de motores à equipe para coloca-los na pista para adquirirem experiência, visando um futuro nos cockpits das Flechas de Prata. No atual cenário, a Manor funciona quase como uma equipe B da Mercedes.
Atualmente, existe apenas uma equipe B de fato no grid, que é a Toro Rosso. A escuderia italiana pertence à Red Bull e é utilizada como porta de entrada dos principais pilotos do Red Bull Junior Team à F1, visando um futuro na RBR. Mas temos outros casos de parcerias entre times grandes e pequenos que excede o nível de fornecimento de componentes.
A Sauber nunca foi oficialmente uma equipe B da Ferrari, mas já foi utilizada pelos italianos como preparação de alguns pilotos antes deles vestirem o macacão vermelho, como Felipe Massa e, mais recentemente, Esteban Gutierrez – que nunca chegou à Scuderia. O mexicano, aliás, também corre atualmente na Haas graças à extensa parceria entre a novata esquadra americana e a Ferrari.
Entre o fim do ano passado e início de 2016, correram alguns boatos de que a McLaren estaria interessada em transformar a Manor em sua equipe B, para dar um lugar a Stoffel Vandoorne na categoria antes de promove-lo a um de seus carros no ano que vem. E agora, a mesma Manor possui dois jovens pilotos da Mercedes correndo em seus dois carros, que são empurrados pelos propulsores da equipe alemã.
Mas, apesar dessas ligações, não existe uma associação semelhante à de RBR e STR em nenhum dos casos. A questão que podemos levantar é: caso essas parcerias se tornassem uma ligação real de matriz e filial, isso seria algo positivo para a F1?
Precisamos analisar alguns fatores antes de responder essa pergunta. Em 2016, temos 11 equipes no grid: Mercedes, Ferrari, Red Bull, Williams, Force India, Toro Rosso, McLaren, Haas, Renault, Manor e Sauber. Dentre essas, consideremos que, hoje, Mercedes, Ferrari, Renault e McLaren teriam condições financeiras de manter uma segunda equipe – além, claro, da Red Bull. Caso cada uma dessas tenha uma “equipe de base” sem aumentar o número atual, teríamos basicamente um grid formado metade por escuderias principais e metade por equipes B. Como a equipe secundária não ameaçaria a sua principal em termos de campeonato, metade do grid não brigaria por títulos e, em condições normais, vitórias. Não parece muito legal…
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, esse já é o cenário que vive e sempre viveu a Fórmula 1. Mesmo sem considerarmos a atual supremacia da Mercedes, nunca houve um campeonato onde mais da metade das equipes brigaram pelo título – até brigas triplas foram pouquíssimas. Então, não podemos considerar isso como um fator negativo da ideia porque já é a realidade.
Olhando pelo outro lado, poderíamos ver uma competição muito maior dentro da pista. Se pegarmos a Toro Rosso como exemplo, podemos ver claramente que a equipe, sendo uma base da Red Bull, vem tendo desempenhos bem satisfatórios. De 2009 (ano que a RBR virou equipe de ponta) até o ano passado, a STR constantemente terminou o mundial de construtores na frente de equipes como Manor/Marussia, HRT, Caterham, Virgin, Sauber e até de Williams, Lotus e McLaren em fracos anos dessas equipes. A única do grupo das médias/pequenas que nunca ficou atrás do time de Faenza é a Force India, que conseguiu alcançar um nível onde ela consegue se manter independente e competitiva sem grandes dificuldades. Atualmente, ela é a única independente não-tradicional nesse patamar. A Haas também tem uma ótima condição financeira e é independente, apesar da extensa parceria com a Ferrari. Em poucos anos, com mais experiência na categoria, ela estará pronta para andar com suas próprias pernas e crescer.
E por que a Toro Rosso consegue ter esse desempenho tão constante? Porque, sendo a equipe B da Red Bull, ela tem estabilidade. Ela tem garantia não apenas de investimento, mas também de profissionais qualificados, sejam eles na pista, nos boxes ou na fábrica. Afinal, se o objetivo final é ter pessoas do mais alto nível na RBR para brigar por títulos posteriormente, a STR precisa ser ter qualidade para que essas pessoas cheguem a esse status. E essa relação de mutualismo é benéfica para todos: a STR sempre conta com qualidade no presente e a RBR tem a garantia de qualidade para o futuro (enquanto o seu presente já é altamente qualificado). Então, se tivéssemos mais equipes B na Fórmula 1, certamente teríamos mais equipes medianas melhor estruturadas e melhores na pista.
Tendo mais equipes competitivas, cada uma em seu nível no campeonato, certamente veremos corridas mais interessantes. A temporada 2016 está surpreendendo positivamente, com muitas provas empolgantes, mas imaginem se tivéssemos todo o pelotão do meio da tabela bem estruturado, financeira e tecnicamente, com condições até de aprontar de vez em quando e aparecer entre as cinco primeiras na corrida. Pensem naquelas provas em que um piloto de uma das principais equipes tem algum problema no treino classificatório e precisa largar no final do grid, tendo que ultrapassar carros com condições de apresentarem o mínimo de resistência. E não apenas por serem bons monopostos, mas até porque essas equipes teriam a missão de segurar os adversários de suas equipes matrizes. Certamente teríamos algumas disputas bem intensas e divertidas na segunda metade do pelotão. Com tanta competitividade entre as medianas, por que não criar um título para premiar a melhor equipe B? Certamente seria outro fator que acirraria ainda mais a disputa nas pistas.
Outro problema que diminuiria seria a grave crise financeira vivida por boa parte das equipes. Praticamente todas as equipes independentes vivem problemas financeiros. A Manor disputou a temporada passada com um carro de 2014 adaptado e, se não tivesse sido adquirida pelo empresário Stephen Fitzpatrick, teria saído do campeonato. A Sauber chegou a atrasar o salário de seus funcionários seguidamente este ano e correria sério risco de não voltar ao grid no ano que vem até ser vendida para o grupo suíço Longbow Finance. A própria Williams, tradicional escuderia, multicampeã mundial, vive dias complicados. Se essas equipes (com exceção da Williams, claro) fossem adquiridas e transformadas em filiais das principais, suas situações financeiras seriam estáveis e a F1 correria menos risco de ter um grid menor.
E outro assunto que já foi discutido diversas vezes nos últimos anos que também poderia ser encerrado é a questão dos pilotos pagantes. Com as grandes dívidas, as equipes pequenas recorreram bastante a corredores que compravam suas vagas no grid com patrocínios, que eram necessários para que essas escuderias sobrevivessem. Isso fez com que nomes que não possuíam talento para estar na Fórmula 1, como Charles Pic, Guido van der Garde, Pastor Maldonado e, mais recentemente, Rio Haryanto, chegassem à categoria e, muitas vezes, tirando espaço de pilotos talentosos, mas que não possuem uma empresa bancando sua vaga.
Essa história acabaria. Teríamos situações semelhantes à da STR, onde essas equipes seriam utilizadas como preparação para que jovens pilotos realmente promissores alcancem o seu potencial para brigarem por uma vaga na elite da categoria. Com esse objetivo, as escuderias seriam altamente criteriosas na hora de decidir quem vai pilotar em sua equipe de base – assim como a Red Bull é. Isso, consequentemente, aumentaria o nível das corridas por termos pilotos mais habilidosos atrás do volante. Claro que o ciclo de pilotos que chegariam à Fórmula 1 seria ainda mais restrito do que é, mas é assim que deve ser. É a principal categoria de automobilismo do mundo, então apenas os melhores pilotos do mundo devem estar nela. Além disso, há diversas outras categorias onde pilotos fazem sucesso e são felizes. Não estar na F1 não é o fim do mundo.
Ponderando todos esses fatores, acredito que seria interessante termos mais relações deste modelo na Fórmula 1. Gosto do que é feito entre Red Bull e Toro Rosso e acho que poderia ser proveitoso termos mais equipes B. Além do mais, o fato de termos essas relações não impedem a existência de equipes independentes. Como citado, temos Williams, Force India e Haas – independentes, sem condições de terem uma equipe B – e as vagas na F1 poderiam ser ampliadas. A FIA está sempre buscando novos interessados em ingressar na categoria, então uma coisa não anula a outra. Claro que o cenário atual não indica que um movimento nesse sentido irá acontecer, é apenas uma ideia (bem) ilusória. Mas será que essa ilusão não poderia ser a solução de muitos problemas vividos atualmente no esporte? Vale a reflexão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, ele é muito importante para nós