Dois anos após 7 a 1 na Copa, zagueiro vê injustiça em quem ainda coloca a culpa da derrota em suas costas. E deixa em aberto possibilidade de voltar ao futebol brasileiro
Dante abraça Balotelli: dupla tem se dado bem no Nice, líder do Campeonato Francês (Foto: AFP)
Nada de PSG, Lyon ou Monaco. Após seis rodadas de Campeonato Francês, quem aparece na liderança da tabela é o Nice. Com quatro vitórias e dois empates, o time é o único invicto na competição e vem surpreendendo a todos, até mesmo o recém-contratado Dante. O zagueiro brasileiro admitiu que não esperava um início tão bom da nova equipe e elogiou um dos principais responsáveis por esse sucesso: o polêmico Mario Balotelli, emprestado pelo Liverpool após viver temporadas difíceis na Inglaterra e na Itália e que agora parece estar reencontrando o faro goleador.
- É um cara que está realmente focado, disposto a limpar essa imagem. Quer mostrar que é bom e diferenciado dentro de campo, e não fora. Vejo no Balotelli um cara bem simples fora de campo e decisivo dentro de campo. Jogou poucos jogos ainda, mas você sente que nos treinos ele está com vontade, discute planos táticos. Sinto da parte dele um interesse muito grande.
Dante, que está com 32 anos, deixou o futebol alemão após oito temporadas - a última foi pelo Wolfsburg - e foi para o Nice convencido pelo projeto do técnico Lucien Favre, que já o havia comandado no Borussia Mönchengladbach. Ele confessou também que teve receio pelo atentado terrorista ocorrido na cidade em julho - um caminhão invadiu a celebração do Dia da Bastilha e deixou 84 mortos e 18 feridos -, mas o novo desafio falou mais alto.
Nesta entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com por telefone, Dante também se mostrou amadurecido em relação ao fatídico 7 a 1 contra a Alemanha, ocorrido dois anos atrás, e acredita ser injustiçado por quem ainda o coloca como um dos maiores culpados da derrota. Sobre um possível retorno ao futebol brasileiro, prefere não traçar planos, apesar de guardar carinho pelo Juventude, clube que o formou. Veja a seguir a entrevista na íntegra.
GloboEsporte.com: Você está surpreso com esse bom início do Nice, líder do Francês?
Dante: Olha, não vou mentir. Se me perguntassem antes de assinar, eu não imaginaria isso. Surpreendeu positivamente. Agora o time está cada vez mais sólido, estamos criando uma boa base para fazer um grande campeonato.
Você acha que o Nice briga pelo quê neste campeonato?
Ano passado o Nice acabou em quarto. É muito cedo ainda para falar alguma coisa. Temos que continuar trabalhando, jogando jogo a jogo focados e concentrados. Mas no futebol acontecem várias surpresas. A gente viu o Leicester campeão na Inglaterra. Dizer que será campeão é muito audacioso, mas podemos sonhar com uma vaga na Liga dos Campeões.
Dante: Olha, não vou mentir. Se me perguntassem antes de assinar, eu não imaginaria isso. Surpreendeu positivamente. Agora o time está cada vez mais sólido, estamos criando uma boa base para fazer um grande campeonato.
Você acha que o Nice briga pelo quê neste campeonato?
Ano passado o Nice acabou em quarto. É muito cedo ainda para falar alguma coisa. Temos que continuar trabalhando, jogando jogo a jogo focados e concentrados. Mas no futebol acontecem várias surpresas. A gente viu o Leicester campeão na Inglaterra. Dizer que será campeão é muito audacioso, mas podemos sonhar com uma vaga na Liga dos Campeões.
Fato de Wolfsburg não disputar competição europeia nesta temporada contribuiu para Dante ir para o Nice (Foto: AFP)
Por conta do atentado terrorista recente que houve em Nice, você teve receio de aceitar esse convite?
No início pensei duas vezes. Claro, é complicado, ainda mais quando envolve família. No início fiquei um pouco pensativo, mas aí depois vi que teve um atentado em Munique, cidade onde já morei e é super segura. Então, falei para a família que isso pode acontecer em qualquer lugar do mundo e deixei na mão de Deus. Isso está se tornando frequente na Europa, está todo mundo sujeito a isso. Temos que continuar vivendo, mesmo que tenha acontecido um atentado aqui.
E como anda o clima em Nice meses após o atentado? O que tem sentido?
As pessoas procuram fazer de tudo para esquecer esse fato tão negativo. Estão tentando voltar à vida normal, a andar nas ruas, a sair. Estão vivendo naturalmente, claro que sempre com a pulga atrás da orelha, mas sinto uma vida normal.
No início pensei duas vezes. Claro, é complicado, ainda mais quando envolve família. No início fiquei um pouco pensativo, mas aí depois vi que teve um atentado em Munique, cidade onde já morei e é super segura. Então, falei para a família que isso pode acontecer em qualquer lugar do mundo e deixei na mão de Deus. Isso está se tornando frequente na Europa, está todo mundo sujeito a isso. Temos que continuar vivendo, mesmo que tenha acontecido um atentado aqui.
E como anda o clima em Nice meses após o atentado? O que tem sentido?
As pessoas procuram fazer de tudo para esquecer esse fato tão negativo. Estão tentando voltar à vida normal, a andar nas ruas, a sair. Estão vivendo naturalmente, claro que sempre com a pulga atrás da orelha, mas sinto uma vida normal.
Você ficou só uma temporada no Wolfsburg. Aconteceu algo para querer sair ou você achou que seu ciclo na Alemanha tinha chegado ao fim?
Não, a única coisa que pensei em relação ao Wolfsburg é que eles não vão jogar nenhuma competição europeia nesta temporada, e o Nice está na Liga Europa. Isso contou muito para mim. Estou acostumado a jogar Liga dos Campeões, aí iria me deparar com semana só de treinos... É difícil. Aí pensei que pelo menos uma Liga Europa seria algo que se encaixaria nos meus objetivos. Por isso decidi pelo Nice.
O Balotelli sempre foi mais manchete pelo comportamento do que pelo futebol. Você acha que ele está reencontrando esse futebol? O que tem achado dele no convívio?
As impressões são muito positivas. É um cara que está realmente focado, disposto a limpar essa imagem que você citou. Quer mostrar que é bom e diferenciado dentro de campo, e não fora. Vejo no Balotelli um cara bem simples fora de campo e decisivo dentro de campo. Jogou poucos jogos ainda, mas você sente que nos treinos ele está com vontade, discute planos táticos. Sinto da parte dele um interesse muito grande. Tenho certeza que, pela qualidade que ele tem, não vai demorar muito para reencontrar um grande time na Inglaterra e voltar para a seleção italiana.
Você já jogou com craques como Müller, Lewandowski... Pelo que viu até agora, dá para dizer que o Balotelli, quando está focado, entra nesse grupo de melhores jogadores do mundo na atualidade?
Com certeza. Quando está realmente focado no trabalho, concentrado no futebol, ele realmente tem qualidade que não se encontra em qualquer jogador. Você vê que é diferenciado, sim. Acho que o que falta para ele é confiança, pois teve passagens complicadas nos últimos clubes. Vai dar tudo certo.
Não, a única coisa que pensei em relação ao Wolfsburg é que eles não vão jogar nenhuma competição europeia nesta temporada, e o Nice está na Liga Europa. Isso contou muito para mim. Estou acostumado a jogar Liga dos Campeões, aí iria me deparar com semana só de treinos... É difícil. Aí pensei que pelo menos uma Liga Europa seria algo que se encaixaria nos meus objetivos. Por isso decidi pelo Nice.
O Balotelli sempre foi mais manchete pelo comportamento do que pelo futebol. Você acha que ele está reencontrando esse futebol? O que tem achado dele no convívio?
As impressões são muito positivas. É um cara que está realmente focado, disposto a limpar essa imagem que você citou. Quer mostrar que é bom e diferenciado dentro de campo, e não fora. Vejo no Balotelli um cara bem simples fora de campo e decisivo dentro de campo. Jogou poucos jogos ainda, mas você sente que nos treinos ele está com vontade, discute planos táticos. Sinto da parte dele um interesse muito grande. Tenho certeza que, pela qualidade que ele tem, não vai demorar muito para reencontrar um grande time na Inglaterra e voltar para a seleção italiana.
Você já jogou com craques como Müller, Lewandowski... Pelo que viu até agora, dá para dizer que o Balotelli, quando está focado, entra nesse grupo de melhores jogadores do mundo na atualidade?
Com certeza. Quando está realmente focado no trabalho, concentrado no futebol, ele realmente tem qualidade que não se encontra em qualquer jogador. Você vê que é diferenciado, sim. Acho que o que falta para ele é confiança, pois teve passagens complicadas nos últimos clubes. Vai dar tudo certo.
Dante se sente injustiçado por quem o aponta como um dos culpados pelo 7 a 1 (Foto: Getty Images)
No fim do ano passado houve um episódio em que você recebeu muitas ofensas racistas nas redes sociais. Isso se repetiu alguma vez nos últimos meses? E como tem sido na França em relação a isso?
Ali foi um fato isolado. Nem dei muita atenção. Depois disso não aconteceu mais nada. Está tranquilo. Sou um cara que não gosta de se expor muito. Foi um caso isolado, mas foi uma pena, né? O mais importante é que os jovens não tomem isso como exemplo, pois é primordial para a educação dos mais novos.
Você deu algumas entrevistas após aquele 7 a 1 contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014. As lembranças daquele jogo ainda te incomodam? E as pessoas ainda te incomodam com isso?
Não, ninguém me incomoda. Faz parte da carreira, é um ponto negativo e a gente tem que assumir. Às vezes lembro, quando passa na televisão, mas isso só me traz um sentimento de revanche para mim mesmo, como jogador e como pessoa. Foi difícil, mas temos que trabalhar para superar. Com o trabalho, a gente consegue se reerguer e dar continuidade à carreira.
Ali foi um fato isolado. Nem dei muita atenção. Depois disso não aconteceu mais nada. Está tranquilo. Sou um cara que não gosta de se expor muito. Foi um caso isolado, mas foi uma pena, né? O mais importante é que os jovens não tomem isso como exemplo, pois é primordial para a educação dos mais novos.
Você deu algumas entrevistas após aquele 7 a 1 contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014. As lembranças daquele jogo ainda te incomodam? E as pessoas ainda te incomodam com isso?
Não, ninguém me incomoda. Faz parte da carreira, é um ponto negativo e a gente tem que assumir. Às vezes lembro, quando passa na televisão, mas isso só me traz um sentimento de revanche para mim mesmo, como jogador e como pessoa. Foi difícil, mas temos que trabalhar para superar. Com o trabalho, a gente consegue se reerguer e dar continuidade à carreira.
Boa culpa daquela derrota, dois anos atrás, acabou caindo nas suas costas. Você se sente injustiçado por isso?
Se muitas pessoas pensam isso, é uma injustiça com certeza. Por outro lado, as pessoas que pensam assim são aquelas que levam o futebol com muita emoção e não com raciocínio. Tem que parar para pensar e ver as coisas com clareza. Eu alcancei um alto nível, trabalhei com grandes treinadores, joguei jogos importantíssimos. Não é A, B ou C que vai botar culpa, isso não vai me desestabilizar. Não vou falar tudo o que penso, mas acho que colocar a culpa em um jogador seria uma injustiça muito grande.
Você pensa em voltar ao futebol brasileiro um dia? De repente para encerrar a carreira?
Deixo isso em aberto. Tudo pode acontecer. Estou há muito tempo na Europa, mas gosto muito do meu país e tenho vontade de jogar perto dos meus amigos e da minha família. Mas isso a gente não pode prever muito. O futebol é uma caixinha de surpresas. Se tiver uma oportunidade, irei, mas hoje não é meu primeiro plano.
Vamos ver o Dante vestindo a camisa do Juventude novamente?
(Risos) Seria um bom reencontro, né? É o time que me revelou, que eu respeito bastante. Mas vamos deixar nas mãos de Deus e ver o que vai acontecer no futuro.
Se muitas pessoas pensam isso, é uma injustiça com certeza. Por outro lado, as pessoas que pensam assim são aquelas que levam o futebol com muita emoção e não com raciocínio. Tem que parar para pensar e ver as coisas com clareza. Eu alcancei um alto nível, trabalhei com grandes treinadores, joguei jogos importantíssimos. Não é A, B ou C que vai botar culpa, isso não vai me desestabilizar. Não vou falar tudo o que penso, mas acho que colocar a culpa em um jogador seria uma injustiça muito grande.
Você pensa em voltar ao futebol brasileiro um dia? De repente para encerrar a carreira?
Deixo isso em aberto. Tudo pode acontecer. Estou há muito tempo na Europa, mas gosto muito do meu país e tenho vontade de jogar perto dos meus amigos e da minha família. Mas isso a gente não pode prever muito. O futebol é uma caixinha de surpresas. Se tiver uma oportunidade, irei, mas hoje não é meu primeiro plano.
Vamos ver o Dante vestindo a camisa do Juventude novamente?
(Risos) Seria um bom reencontro, né? É o time que me revelou, que eu respeito bastante. Mas vamos deixar nas mãos de Deus e ver o que vai acontecer no futuro.
A sétima rodada do Campeonato Francês começa nesta sexta-feira, com o PSG podendo assumir provisoriamente a liderança caso vença ou empate com o Toulouse fora de casa, às 15h45 (horário de Brasília). O Nice visita o Nantes no domingo, às 12h.
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