Gabriel Jesus ocupa faixa esquerda, libera craque do Barcelona, que, longe da melhor forma, deixa de ser presa fixa. Ainda zerado, camisa 10 foi quem mais finalizou na olimpíada
O número de finalizações foi quase tão alto ao dos outros jogos – foram 22, o que fechou média de 21 tentativas por partida. A posse de bola também – a menor foi da estreia contra a África do Sul, com 63%. Mas o resultado de 4 a 0 sobre a Dinamarca entra muito mais na conta dos ajustes que o treinador fez do que na leitura dos números. Contra uma equipe que praticamente não saiu da defesa – finalizou apenas três vezes e não teve um córner a favor -, foi possível avançar ainda mais o time e fazer jogo de paciência para encontrar espaços. O caos em torno de Neymar funcionou – e a mudança de posicionamento do atacante foi chave para o acerto.
No segundo tempo, Neymar recua mais para criar. Douglas Santos abre na esquerda (Foto: Raphael Zarko)
Micale matou a charada ao tirar o craque do Barcelona da ponta esquerda. O que não fez nem nos treinos na Granja Comary, embora tenha experimentasse os quatro à frente na olímpica. E justificou de maneira simples a mudança de posicionamento: ainda longe do auge da forma – o que o treinador não repetiu nesta coletiva de imprensa -, em processo de crescimento físico gradual, Neymar estava manjado pelos adversários, que o cercavam, diminuíam seus espaços e conseguiam minimizar os estragos dos dribles e dos lances do craque do Barcelona.
Outro mérito contra a Dinamarca foi alinhar Walace e Renato Augusto - antes, tinha fixo Thiago Maia no meio, Felipe Anderson e Renato, cada um de um lado. Mas não vai ser sempre possível atuar com oito jogadores ao redor da área adversária como foi comum nesta quinta. Será preciso que os laterais alternem a subida, que os cuidados defensivos sejam maiores.
Jesus recua para preencher o meio, com Luan próximo e Neymar mais à frente (Foto: Raphael Zarko)
O 10 que não desiste
Até o jogo contra a Dinamarca, quase todas as bolas que Neymar pegou eram pela esquerda. Na estreia contra a África do Sul ainda foi mais perigoso e criou bastante – finalizou seis vezes, mas contra o Iraque não foi bem. Ele tentava espaço para o drible em direção à linha de fundo, não conseguia e ia abrindo, abrindo, abrindo... Contra até nove jogadores na intermediária defensiva, Neymar não conseguia colocar os companheiros na melhor posição – aconteceu em lance para Gabigol contra o goleiro Khune, que o sul-africano salvou com a perna esquerda – e tinha que se virar arriscando chutes. Na vitória em Salvador, com placar já construído, ele tentou cinco vezes à média distância na segunda etapa. No total, foram oito finalizações – acima das seis e cinco do primeiro e segundo jogo respectivamente. Mesmo sem ser brilhante, Neymar é o maior finalizador da competição: chutou 19 vezes. Mas ainda não marcou.
Com Dinamarca bem fechada, Neymar acha Jesus no meio dos grandalhões, mas o garoto perde o gol (Foto: Raphael Zarko)
Embora centralizado e com bem menos – para não dizer nenhuma – obrigação defensiva contra a Dinamarca, Neymar se beneficiou de um trio ao seu redor e da parceria entrosada com Douglas Santos, o que não existiu contra o Iraque. Teve Gabriel Jesus num vai e vem impressionante da defesa ao ataque, com carrinho e ajuda ao lateral-esquerdo Santos na marcação. Viu Luan flutuando – alternando recuos e caindo para a direita ao lado de Gabigol. E ficou definitivamente mais próximo do santista, que, se antes tinha de inverter o jogo para achá-lo, ficou a uma tabela de distância de Neymar. Com mais espaço para receber a bola, opções pelo meio, à direita e na esquerda, o camisa 10 usou toda sua categoria e visão de jogo para criar as principais jogadas do Brasil.
O 10 que distribui
Repare nos dois gols do segundo tempo. De frente para o adversário, Neymar toca para Douglas Santos entrar na área e passar ao gol de Luan. A jogada se repete no último gol. Mas antes disso, no primeiro tempo, deixou Jesus de frente para o goleiro duas vezes. O palmeirense perdeu as chances.
A realidade, no entanto, não é dinamarquesa. Jogadas que deram certo contra o europeus não saíram contra a África do Sul e Iraque. É fácil lembrar de um cruzamento milimétrico de Douglas Santos para Jesus na estreia, que o defensor sul-africano salvou com a ponta do pé antes de chegar no atacante brasileiro. A Dinamarca também não é parâmetro porque vai ser difícil lembrar de uma falha – e de tantas bolas nas costas no setor direito de defesa adversário – de sul-africanos e iraquianos como a de Larsen Kasper no segundo gol de Gabriel. O jogador dinamarquês praticamente dominou a bola para a finalização forte do atacante do Santos.
Micale ainda disse que ia pensar sobre a formação contra a Colômbia. A dificuldade é outra. De jogo técnico e com atacantes perigosos – o jovem Miguel Borja, de desempenho impressionante nas semis e finais da Libertadores, e o experiente Teo Gutierrez, os colombianos devem exigir bem mais da defesa não vazada da seleção olímpica.
Com quatro a zero no placar, oito brasileiros cercam a área adversária da Dinamarca (Foto: Raphael Zarko)
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