Brasileira fica sem marca e ficará empatada na última colocação com atleta chinesa
Era a última chance de Fabiana Murer reescrever sua história olímpica. Em casa, com a segunda melhor marca do ano e com um clima favorável no Engenhão, o cenário parecia o ideal para a redenção. Mas uma queda no aquecimento soou como um presságio ruim. Foi de novo nas eliminatórias, foi de novo de forma melancólica. A brasileira sucumbiu novamente e deu adeus aos Jogos do Rio sem acertar nenhum salto. Chorou copiosamente, com motivos para tal. Amargará a lanterna na classificação olímpica ao lado da chinesa Ren Megquian, única outra atleta sem marcas registradas.
- Estou muito chateada porque não consegui saltar. Tive uma hérnia há um mês. Foi muito difícil conseguir passar por tudo isso. Foi um mês de muito trabalho, muita dedicação. Estava sempre acreditando que seria possível estar na final. Falei que essa qualificação seria a grande competição para mim, onde ia ver se realmente teria condições de saltar e ir para a final. Infelizmente, a hérnia tirou a força do meu braço esquerdo, e eu preciso muito dele principalmente no final do salto. No momento que eu precisava manter a vara envergada, ela desenvergava e me jogada para o sarrafo e, com isso, não consegui saltar. Fiz o máximo que pude, em toda minha carreira sempre batalhei muito. Consegui levantar o salto com vara, mostrar que existe o salto com vara e vieram outros atletas atrás de mim. Consegui várias medalhas e infelizmente não consegui uma olímpica, mas faz parte. Esporte é assim. Uma lesão tira a condição do atleta de poder saltar. O atleta tem que estar 100% para conseguir o melhor resultado. Hoje devo estar 70% da minha condição. Acho que as pessoas me acompanham, viram meus resultados. Muitos me deram força nesse período. Tenho que agradecer todo mundo que tentou me ajudar - disse Fabiana.
A derrota no Rio é ainda mais dolorida do que as anteriores. Em Pequim 2008 a brasileira ainda perseguia as adversárias, muito superiores, quando uma de suas varas sumiu por culpa da organização. Em Londres 2012 Fabiana já era campeã mundial indoor e outdoor, mas sofreu com o vento. Desta vez, aos 35 anos, havia alcançado há pouco a melhor marca da carreira. Chegou a liderar o ranking mundial com o status de quinta maior saltadora da história. Era tida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e pela Confederação Brasileira (CBAt) como maior esperança de medalha do país no atletismo. A euforia ficou ainda maior com a conquista de Thiago Braz no masculino na véspera. Mas, nesta segunda-feira, tudo ruiu.
A disputa não seria fácil. As americana Jennifer Suhr e Sandi Morris estavam em grande forma. Mas ninguém esperava que Fabiana não conseguisse superar sequer a fase classificatória. No aquecimento, ao errar um salto, levou uma pancada na cabeça com a vara. Mas afirmou que o acidente não a prejudicou.
Fabiana Murer cai no chão com o sarrafo derrubado: a terceira decepção em Olimpíadas (Foto: Reprodução)
- Doeu um pouquinho, mas não teve muito problema não. Quando fiz esse salto, senti que meu braço não estava funcionando. Fiz alguns saltos no treino, há quatro dias, mas foram parecidos com esse. Achei que fosse dar uma melhoradinha. Estava correndo muito bem, a entrada estava boa, mas na fase de voo não conseguia manter a vara envergada e manter o tempo dela.
A brasileira optou por abrir a competição com o sarrafo a 4,55m. Errou as três tentativas. Perdeu a chance de brigar por medalhas. Perdeu a chance de deixar os fantasmas olímpicos no passado e mostrar seu valor.
Há duas semanas, Fabiana havia anunciado que uma hérnia cervical foi detectada durante a reta final de sua preparação olímpica. Dias antes, havia desistido de saltar na Diamond League de Londres com dores na região. Garantiu, no entanto, que seria capaz de competir no Rio. Não foi. A carreira não seria encerrada no Rio. A agenda previa ainda uma competição em Bruxelas. Agora, a participação está em aberto.
- Não sei se foi meu último salto.
Outra brasileira na competição, Joana Ribeiro da Costa se considerava extremamente vitoriosa só de ter conseguido tornar-se atleta olímpica. Foi eliminada de forma precoce ao errar os três saltos a 4,30m. Mas um acerto a 4,15m a colocou na classificação geral à frente de Fabiana, na teoria nossa melhor atleta.
As demais favoritas ao pódio avançaram sem maiores percalços. A grega Ekateríni Stefanídi, a americana Jennifer Suhr e a cubana Yarisley Silva passaram com saltos de 4,60m. Líder do ranking mundial, a também americana Sandi Morris avançou com 4,55m. A final terá 12 atletas e será disputada no dia 19, sexta-feira, às 20h30 (horário de Brasília).
O adeus mais amargo: três erros na eliminatória olímpica e a lanterna (Foto: Danilo Verpa/Folha de São Paulo/NOPP)
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