segunda-feira, 27 de março de 2017

Análise: as lições que podemos tirar da primeira corrida de uma nova F1

GP da Austrália mostra que Ferrari pode rivalizar com Mercedes em campeonato com menos ultrapassagens. Massa corre risco de correr sozinho. E falta de experiência de jovens custará caro


Análise: as lições que podemos tirar da primeira corrida de uma nova F1

 nova Fórmula 1 começou no último domingo. Devido às características da pista de Melbourne, um circuito de rua, e por ser apenas a primeira de uma longo campeonato de 20 etapas, o GP da Austrália nem sempre é parâmetro para o que será visto no ano. Porém, já foi possível tirar algumas lições desta etapa de abertura da temporada 2017, vencida por Sebastian Vettel, da Ferrari.
Temos um jogo
Ao que tudo indica, enfim, teremos mais de uma escuderia nas brigas por vitórias e título. Após quatro anos em que uma equipe era dominante (RBR em 2013, Mercedes de 2014 a 2016), era tudo o que a F1 precisava. A Ferrari confirmou a boa impressão deixada na pré-temporada, levou a primeira corrida do ano e mostrou que a Mercedes, soberana desde a introdução da geração de motores V6 turbo 1.6l, terá companhia lá na frente.
O curioso é que a equipe italiana também fez uma boa pré-temporada em 2016 e poderia até ter vencido o GP da Austrália na ocasião, não fosse um pulo do gato da Mercedes em um período de safety car, enquanto dessa vez a equipe alemã deixou a chance de vitória escapar por um erro de estratégia. Só que este ano o time de Maranello não parece ser fogo de palha. O ritmo dos carros vermelhos foram fortes e consistentes. Quando Hamilton teve caminho livre para caçar Vettel, o alemão abriu do inglês e venceu com segurança.
Ainda não se pode descartar a RBR da briga. O time da companhia de energéticos claramente largou atrás de Mercedes e Ferrari no campeonato. Porém, não se pode duvidar de seu poder de evolução. Devido à maior liberdade de desenvolvimento permitida por este novo regulamento, acredito que a equipe tetracampeã irá evoluir e, ao menos, brigar por vitórias ao longo do ano.

Melbourne, Vettel comemora vitória no GP da Austrália
Vettel comemora vitória no GP da Austrália (Foto: REUTERS/Brandon Malone)
Massa e o Bloco do Eu Sozinho?
De volta à F1 após uma aposentadoria relâmpago, Felipe Massa chegou em sexto, atrás das duas Ferraris, das duas Mercedes e de uma RBR (Daniel Ricciardo não completou a prova). Era o melhor que o brasileiro poderia ter feito com o equipamento que tem em mãos. Massa correu sozinho. Recebeu a bandeirada a 55s do 5º colocado Max Verstappen e com muita folga para o sexto Sergio Pérez, que levou volta dos líderes.
E esta pode ser a realidade do brasileiro na temporada. A Williams está claramente em um patamar isolado como quarta força do grid: distante de Ferrari, Mercedes e RBR, e com uma vantagem razoável para as equipes intermediárias.
Como seu companheiro Lance Stroll chegou prematuramente à F1 e está mostrando dificuldades para se mostrar competitivo, Massa também não deverá ter concorrência interna na equipe. Com isso, corre o risco de ficar correndo sozinho em diversas corridas. Uma mudança deste cenário dependerá das características das pistas e da evolução das equipes no decorrer do ano.

Massa correrá "sozinho" em 2017? (Foto: REUTERS/Jason Reed)

Campeonato mais disputado, mas com menos ultrapassagens
Se as brigas por vitórias e pelo título tendem a ser mais equilibradas em razão da chegada da Ferrari na Mercedes, as corridas em si terão uma diminuição no número de ultrapassagens. Tudo por causa da maior carga aerodinâmica permitida pelas novas regras. Na busca por deixar os carros mais velozes e impressionantes, os responsáveis pela confecção do regulamento acabaram gerando um efeito colateral. Tradicionalmente, as corridas em Melbourne costumam ser mais movimentadas do que a que vimos neste domingo. Foi possível notar que, devido à turbulência gerada pelo carro da frente, os pilotos estão com muito mais dificuldade em contornar as curvas colados no adversário da frente, dificultando um melhor posicionamento para ultrapassagens.
Hamilton, por exemplo, mesmo com pneus novos, não conseguiu sequer ameaçar Verstappen, que ainda não havia parado nos boxes. Stroll, com uma Williams equipada com motor Mercedes, mostrou grande dificuldade para passar Marcus Ericsson, com uma Sauber de motor Ferrari versão 2016. Com isso, o treino classificatório e as estratégias ganharão um peso muito maior nas corridas deste ano. Veremos boas posições de largada e paradas nos boxes nos momentos certos, como a de Vettel na Austrália, sendo decisivas para as vitórias. Resta torcer para que em pistas com características diferentes o efeito seja menor e sejam possíveis mais ultrapassagens.
Fórmula 1 - Carro da Ferrari
Corridas em 2017 terão menos ultrapassagens (Foto: Getty Images)


Experiência e braço vão contar
Com esta nova geração de carros da F1, mais exigentes tanto técnica quanto fisicamente, a experiência e o braço são requisitos que terão peso maior do que tinham até então. Tanto no treino classificatório quanto na corrida, nos duelos internos das equipes, os pilotos mais jovens tiveram rendimento muito abaixo de seus companheiros mais “rodados”. No qualyfing isso ficou bem evidente. Com as equipes intermediárias mais emboladas, cinco pilotos de cinco equipes diferentes foram eliminados no Q1: Antonio Giovinazzi (Sauber), Kevin Magnussen (Haas), Stoffel Vandoorne (McLaren), Lance Stroll (Williams) e Jolyon Palmer (Renault), todos menos experientes que seus parceiros. Na corrida, excetuando-se abandonos e acidentes, os pilotos cascudos se impuseram.
Companheiro de Felipe Massa, Lance Stroll é o maior exemplo disso. Bancado alto investimento de seu multimilionário pai, o jovem canadense pulou muitas etapas (pulou da F3 europeia para a F1, por exemplo) e chegou com apenas 18 anos na F1. E pelos erros cometidos nos treinos e na pré-temporada fica evidente que chegou prematuramente à categoria máxima do automobilismo mundial. Nada impede que ele se torne um grande piloto. Mas sua falta de experiência nesse ano de carros tão complexos e tão exigentes podem manchar sua imagem.
Nesse momento você pode estar se perguntando “Ah, mas e o Max Verstappen??? Ele chegou a F1 com 17 anos e tá tocando o terror”. Verstappinho não é regra, é exceção. É um fora de série e não pode ser levado como referência.
Lance Stroll fórmula 1
Lance Stroll logo após se chocar contra o muro no terceiro treino livre (Foto: Reprodução)

Começo de muitas mudanças
Transmissões e entrevistas ao vivo nas redes sociais antes das corridas, pista liberada para a torcida acompanhar a cerimônia de pódio, ações com foco no público jovem durante o fim de semana de GP… A Liberty Media, aos poucos, vai dando uma nova cara para a Fórmula 1. Bernie Ecclestone fez muito pela categoria, uma verdadeira revolução nas últimas décadas. Mas de um tempo para cá, seu método centralizador de administração fez a categoria ficar parada no tempo nos últimos anos. Precisava-se de outra revolução. E é o que parece que está começando a acontecer com cabeças frescas pensando a categoria. Vale lembrar que trata-se ainda da primeira corrida desta nova fase, e ainda com um regulamento desenvolvido na “era” anterior. Vamos ver o que futuro aguarda para a F1.

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