Após seis vitórias, brasileiro espera encarar vencedor de Woodley x Thompson. Ele diz que apego exagerado ao título o atrapalhava; menos pressão o ajudou a engrenar
À espera de title shot, Demian Maia esteve no UFC 204, na Inglaterra, como lutador convidado (Foto: Ivan Raupp)
Depois de emplacar seis vitórias consecutivas na categoria dos meio-médios do UFC, Demian Maia estava ansioso na esperança de conseguir uma disputa de título contra Tyron Woodley. Ao mesmo tempo, sabia que a chance poderia ser dada a Stephen Thompson, único da divisão com uma série de triunfos maior do que a sua (sete). Por isso, a marcação do duelo Woodley x Thompson para o UFC 205 - no dia 12 de novembro, em Nova York - não chegou a surpreender o brasileiro negativamente. Até aí tudo bem, mas ele espera ser o próximo da fila e encarar o vencedor do combate entre os americanos.
- Ainda não me falaram nada, mas acredito que não tem muito para onde correr. Se essa luta deles correr normalmente, com os dois bem, acho que serei eu o próximo. É o que todo mundo fala. Ouço até funcionários do UFC falando isso, é consenso que eu devo lutar contra o vencedor. Mas, enquanto não tiver o contrato assinado... Sei que o mundo dá voltas. Tudo pode acontecer - afirmou Demian, que não recebeu - pelo menos ainda - qualquer aviso para ficar de "stand by" para o caso de Woodley ou Thompson se machucarem.
Da série de seis vitórias de Demian, as mais contundentes foram as duas últimas, finalizando os duríssimos Matt Brown e Carlos Condit, este em apenas 1m52 de luta. Embalado por esses resultados, ele acha que a única maneira - injusta - de não ser o próximo desafiante é se o ex-campeão Georges St-Pierre voltar da aposentadoria e o UFC quiser dar ao canadense a disputa de cinturão logo de cara. Nesse caso, a opção de aguardar seria repensada, conforme disse nesta entrevista exclusiva ao Combate.com.
- Aí já não sei se valeria a pena esperar. Não fico nem pensando nessas coisas para não ter que gastar energia com uma coisa que eu não conseguiria resolver - disse Demian, que ainda analisou sua situação de momento.
- O problema não é ficar parado ou não. Se eu pudesse lutar sabendo que ganharia o title shot independentemente do resultado, lutaria com certeza, porque é importante o atleta se manter no ritmo, e eu gosto de lutar. O problema é lutar, e aí você dá um azar e perde ou o cara lutar melhor do que você, e a chance de disputar o título diminui bastante.
- O problema não é ficar parado ou não. Se eu pudesse lutar sabendo que ganharia o title shot independentemente do resultado, lutaria com certeza, porque é importante o atleta se manter no ritmo, e eu gosto de lutar. O problema é lutar, e aí você dá um azar e perde ou o cara lutar melhor do que você, e a chance de disputar o título diminui bastante.
Aos 38 anos, Demian Maia sente que vive seu melhor momento como lutador de MMA. Para ter engrenado, ele acredita que as chaves foram ter baixado dos médios (até 84kg) aos meio-médios (até 77kg), ter voltado a focar na luta agarrada, ter reformulado parte da equipe - o empresário Eduardo Alonso passou a ser também o head coach, por exemplo -, e ter perdido um pouco da obsessão que tinha pelo cinturão, o que tirou um pouco de pressão dos seus ombros e o fez lutar de forma mais solta. Veja a seguir outros tópicos da entrevista.
Mudanças na equipe
A gente começou a fazer um enfoque diferente nos treinos. Toda a equipe começou a trabalhar em conjunto. O Edu manda a planilha, e todo mundo segue. Isso é muito importante, porque cada treinador sabe o que o outro vai fazer, sabe a intensidade de cada treino do dia. E a chave foi voltar o enfoque mais para a luta agarrada.
A gente começou a fazer um enfoque diferente nos treinos. Toda a equipe começou a trabalhar em conjunto. O Edu manda a planilha, e todo mundo segue. Isso é muito importante, porque cada treinador sabe o que o outro vai fazer, sabe a intensidade de cada treino do dia. E a chave foi voltar o enfoque mais para a luta agarrada.
Demian deu show na última luta ao finalizar o duríssimo Carlos Condit com facilidade (Foto: Reuters)
Menos obsessão pelo título
Nunca tinha perdido duas seguidas. A partir dali eu mudei mentalmente. Quando perdi para o Rory (MacDonald), eu achava que seria impossível disputar título de novo, pela minha idade, por tudo. Então, relaxei mais. Eu era muito obsessivo com o título. Aí pensei em melhorar, lutar porque gosto. Não é questão de estar mais tranquilo, mas sem aquela obsessão.
Nunca tinha perdido duas seguidas. A partir dali eu mudei mentalmente. Quando perdi para o Rory (MacDonald), eu achava que seria impossível disputar título de novo, pela minha idade, por tudo. Então, relaxei mais. Eu era muito obsessivo com o título. Aí pensei em melhorar, lutar porque gosto. Não é questão de estar mais tranquilo, mas sem aquela obsessão.
Mudança de mentalidade
Essa segunda derrota me fez relaxar e rever um monte de coisa. O problema que tive no ombro (uma grave infecção) também me fez rever a vida, as coisas por que passei. Me fez ver que existem mais coisas na vida do que ser campeão, do que só a parte profissional. Comecei a dar muito mais valor para família, filhos. Voltei a dar aula. Percebi que minha missão não é só ir lá e ser campeão, é doar meu tempo para tentar ajudar algumas pessoas, até com conversas e conselhos. Eu estava que nem burro com tapa-olho e só olhava o cinturão na frente. Por incrível que pareça isso acabou me dificultando.
Sem pressão?
Não, muito pelo contrário. Mas vamos dizer que eu tinha 150% de pressão, e hoje são "só" 100%. Acho que consegui controlar isso melhor. Eu era muito obsessivo e agora sou semi-obsessivo. Ou eu era obsessivo compulsivo e agora sou "só" obsessivo (risos).
Análise de Woodley x Thompson
Não sei quem é melhor, sei que eles são diferentes. Os dois são muito duros, já foram muito testados e merecem estar lá disputando o título. O Tyron merece ser o campeão porque é muito casca-grossa, assim como o Thompson. Só que, em termos de estilo, acho que essa luta é um pouquinho melhor para o Thompson, pela movimentação, pela distância... O Woodley tem sempre o perigo do mata-cobra, mas o Thompson controla bem a distância, acaba complicando um pouco para o Woodley usar essa arma.
Não, muito pelo contrário. Mas vamos dizer que eu tinha 150% de pressão, e hoje são "só" 100%. Acho que consegui controlar isso melhor. Eu era muito obsessivo e agora sou semi-obsessivo. Ou eu era obsessivo compulsivo e agora sou "só" obsessivo (risos).
Análise de Woodley x Thompson
Não sei quem é melhor, sei que eles são diferentes. Os dois são muito duros, já foram muito testados e merecem estar lá disputando o título. O Tyron merece ser o campeão porque é muito casca-grossa, assim como o Thompson. Só que, em termos de estilo, acho que essa luta é um pouquinho melhor para o Thompson, pela movimentação, pela distância... O Woodley tem sempre o perigo do mata-cobra, mas o Thompson controla bem a distância, acaba complicando um pouco para o Woodley usar essa arma.
Com quem o jogo de Demian encaixa melhor?
É difícil falar isso. Vejo os pontos fortes dos dois (Woodley e Thompson), mas também vejo pontos fracos que eu posso explorar nos dois. Mas não consigo ter essa análise com clareza de quem se encaixa melhor no meu jogo. Não consigo mesmo. Às vezes penso que é um, às vezes que é outro. Muito difícil saber.
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