quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Chape estruturava fundo para captar R$ 30 milhões em compra de atletas

Dezesseis comerciantes já acenavam com cotas para novo passo do clube, revela agente. Em depoimento, empresário conta relação com trio e "porre" com Caio Jr



Arená Condá Chapecoense (Foto: Janir Júnior)Torcedor reza na Arena Condá: clube tenta se reerguer em meio à tragédia (Foto: Janir Júnior)
Um sonho de empresários locais que crescia a cada ano e tinha próximo passo ainda mais audacioso. A Chapecoense estruturava e já colocava no papel um fundo de investimento com grandes comerciantes e empresários da cidade para captar mais de R$ 30 milhões. A verba seria destinada à contratações. Dezesseis empresários locais já estavam dentro do projeto. Para se ter dimensão do plano dos dirigentes e dos empresários de Chapecó, a arrecadação total almejada era quase do tamanho de todas receitas registradas em 2015 (R$ 47 milhões, segundo balanço do clube).

O empresário de jogadores Jorge Machado capitaneava a arrecadação de cotas e seria um dos gestores do fundo. Representante de três jogadores falecidos no acidente de avião - Matheus Biteco, Thiaguinho e Dener Assunção -, Machado levou o modelo de fundo de investimento e, com bom relacionamento na diretoria, ganhou entusiastas na Chapecoense.

- A gente já tinha 16 empresários da cidade participando. O Mauro (Dal Bello, diretor da Chape), o Sandro (Pallaoro, presidente), o Décio (Burtet Filho, diretor), eles eram visionários, o projeto era muito grande. A ideia era captar R$ 30 milhões, R$ 40 milhões. A visão que esses guris tinham era muito linda. Agora nem sei quem procurar. Morreram todos - conta, muito emocionado, o agente de jogadores.

Empresário de Matheus Biteco, nascido em Porto Alegre, de Dener Assunção, de Bagé, do carioca Thiaguinho e do ex-companheiro Caio Junior, com quem jogou no Grêmio, Jorge Machado era figura frequente em jogos da Chapecoense. Esteve na Arena Condá no empate com o San Lorenzo que classificou o time para a final da Sul-Americana.

- Todos temos a tarefa de reerguer a Chapecoense. Todos presidentes do Brasil estão se mobilizando. Falei com o Daniel (Nepomuceno), do Atlético-MG, com o Godinho (vice de futebol do Flamengo). Um time desses não pode morrer. Participei do levantamento do Brasil de Pelotas (que teve vítimas fatais em acidente de ônibus em 2009) e vamos fazer o mesmo com a Chape - diz o empresário de futebol.
Caio Júnior abraça Jorge Machado: amigos dos tempos de jogadores do Grêmio (Foto: Reprodução Instagram pessoal)Caio e Machado: amizade de 35 anos dos tempos de Grêmio (Foto: Reprodução Instagram pessoal)
Depoimento: agente lembra dos "filhos" e do dia que deixou Caio Junior "mamado"
"Perdi três filhos. O (Matheus) Bitequinho e o Dener estão comigo desde criança. Conheço o Biteco desde 11, 12 anos de idade, ele é de Porto Alegre. O Dener, desde os 15 anos, é de Bagé (RS). O Thiago (Thiaguinho) estava comigo há um ano e pouco.
Na última quarta-feira, fui para o jogo da decisão do San Lorenzo. Eles estavam radiantes, o Thiago já estava com os exames, sabia que ia ser pai. Todo mundo viu esse vídeo que rodou a internet. Eu fui para o hotel e ele veio me contar que ia ser pai. Havíamos acabado de fechar contrato de gente grande, como ele disse, com a Chapecoense. Foi com o Mauro (dirigente), meu amigo, que também morreu. Foi a diretoria toda.
Biteco, Dener, Machado e Thiaguinho: empresário tratava os jogadores como filhos (Foto: Reprodução Instagram pessoal)Biteco, Dener, Machado e Thiaguinho: empresário tratava os jogadores como filhos (Foto: Reprodução Instagram pessoal)





























É uma loucura isso.O Dener tinha cinco propostas, uma do exterior, duas de time grande do Brasil. A gente estava definindo para onde ele ia. O Hoffenhein queria a volta do Biteco, sabiam o campeonato que ele fez aqui. É uma gurizada de 20, 21 anos, que tive o prazer de conviver.
Na quinta-feira depois da classificação, levei eles pra comer em churrascaria de Chapecó. Eu fretei um avião para sair de Chapecó, porque tinha que voltar para Porto Alegre. Vim cagado (risos), era um turbo-hélice, mas deu certo. Eles ficaram brincando comigo.
- Olha esse avião aí. Pega um de carreira, vai para Florianópolis amanhã.
Este momento ficará em minha mente. Feliz com meus FILHOS PARA SEMPRE. Amo vocês. E, gurizada, lá do céu cuidem de nós. Porque Deus vai me dar força para cuidar dos seus filhos e esposas e famílias  
Jorge Machado no Instagram
Eu tinha a passagem, mas era aniversário de um amigo e a esposa ia fazer festa. Na hora a gente acha que é sacanagem, mas olha só... Eles acabaram morrendo num avião fretado. (Emocionado) ceifaram a vida da molecada, de todo mundo. Deus deve ter explicação. Só guris lindos. Agora as esposas... Não tenho nem o que falar. Meu filho praticamente já adotou o filho do Dener. Vou adotar os outros.
Esses dias encontrei a esposa do Caio Junior, que morou comigo. Tomei café com ele e com ela, na quinta. Falei com ela há pouco. Era um grande pai, marido, um grande amigo.
Nos conhecemos com 17 anos, eu era de Erechin, ele de Cascavel. Ele tinha mais condição financeira, então passava férias e o carnaval com ele. Dei o primeiro porre da história do Caio Júnior. Deixei ele mamado, vomitava que nem um porco (risos). Esses dias estávamos lembrando disso. Jogávamos juntos nos juniores do Grêmio. Dei um foguetaço nele. Ele disse: - Ele me ensinou a beber, esse filho da puta (risos)".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, ele é muito importante para nós