sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

É verdade: as chances de Massa ficar na Williams para 2017 são grandes

Cada vez mais, equipe britânica se mostra disposta a deixar Bottas ir para Mercedes no lugar de Rosberg, aumentando a possibilidade de Felipe voltar da aposentadoria


Você deve se lembrar das aulas de História do Brasil. No dia 9 de janeiro de 1822, o príncipe regente, D. Pedro de Alcântara, pronunciou a célebre frase: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Diga ao povo que fico”. A data ficou conhecida como o Dia do Fico. D. Pedro atendeu à aclamação dos brasileiros e não ao chamado da corte portuguesa, que o queria de volta a Portugal, interessada em reduzir as liberdades da colônia.
Pois ao redor do dia 9 de janeiro também, mas de 2017, Felipe Massa tem boas chances de assumir o papel de D. Pedro de Alcântara ao afirmar para a torcida o que, provavelmente, dirá antes a Claire Williams, sócia da equipe Williams, e Mike O'Driscoll, diretor geral: “Se é para o bem do time, da alegria do promotor do show (Bernie Ecclestone) e de milhares de torcedores, afirmo que permaneço na F1”. Seria o seu Dia do Fico.
Felipe Massa torcida GP do Brasil de formula 1 (Foto: Reuters)Felipe Massa torcida GP do Brasil de formula 1 (Foto: Reuters)
Aquelas demonstrações impressionantes de apreço a Massa, tanto em Interlagos quanto na etapa de encerramento do campeonato, em Abu Dhabi, por sua despedida da F1, podem ser repetidas no fim de 2017 e, dependendo do que acontecer no ano que vem, até mesmo no término da temporada de 2018. Isso mesmo. O interesse de Toto Wolff e Niki Lauda, da Mercedes, por Valtteri Bottas, da Williams, gerou o convite de Claire a Massa. 
Ela mesmo se manifestou, nesta quinta-feira, dizendo ser possível liberar Bottas para a Mercedes desde que a sua organização tenha um piloto experiente como Massa para correr ao lado do outro contratado, o canadense Lance Stroll, de 18 anos, recém-completados, campeão da F3 europeia, estreante na F1.
E a coisa não ficou apenas na declaração isolada de Claire: os dois lados conversaram. Existe, sim, o interesse da Williams em manter Massa na equipe no campeonato que vai começar dia 26 de março em Melbourne, na Austrália. A mudança radical do regulamento, com carros e pneus mais largos e cerca de cinco segundos mais rápidos, exigirá pilotos com conhecimento de causa para desenvolvê-los. Bem como, obviamente, conduzi-los. Massa, muito conhecido e respeitado pelo grupo de engenheiros da Williams, atende o requisito.
Felipe Massa ao lado de Claire Williams, chefe da Williams (Foto: Divulgação)Felipe Massa ao lado de Claire Williams, chefe da Williams (Foto: Divulgação)






MUITAS RAZÕES PARA FICAR

É bom lembrar o que levou Massa anunciar em Monza, em setembro, a decisão de deixar a F1 depois de 15 anos, sendo 14 como titular, três na Sauber, oito na Ferrari e três na Williams: “Compreender que não teria um carro competitivo”. Seu contrato com a Williams termina no fim deste ano e Claire e O'Driscoll já tinham pronto seu substituto, Stroll, que traria consigo um valor de patrocínio capaz de convencer qualquer time, segundo se comenta no paddock, 24 milhões de euros (R$ 91 milhões). 
Lance Stroll e Valtteri Bottas, dupla da Williams para 2017 (Foto: Divulgação)Lance Stroll e Valtteri Bottas, dupla da Williams para 2017 (Foto: Divulgação)
Stroll seria, em 2017, o companheiro de Bottas, ainda jovem, 27 anos, e talentoso, a ponto de ter sido cogitado para correr pela Ferrari e agora, com o inesperado abandono de Nico Rosberg, pela Mercedes. Massa tem 35 anos. 
Ocorre que Wolff e Lauda consideram ser um risco elevado, com fundamentadas razões, escolher o alemão Pascal Wehrlein, 22 anos, da academia da Mercedes, para ser o companheiro de ninguém menos de Lewis Hamilton. Existe até pressão de Ecclestone para que esse não seja o desfecho da história. O promotor do Mundial tem certeza de que a Mercedes fará outro carro superior ao da concorrência, em 2017, e se Hamilton não tiver do lado um piloto capaz pode ganhar quase todas as corridas.
Bernie Ecclestone, entre Toto Wolff e Niki Lauda, no GP do Bahrein (Foto: Getty Images)Wolff e Lauda não querem arriscar Pascal Wehrlein na Mercedes ainda (Foto: Getty Images)
Tudo isso justamente numa temporada que deverá ser, ou deveria, a de resgate de alguns valores importantes na F1, como a valorização do piloto, pela suposta redução da importância tecnológica no resultado da competição, bem como um pouco mais de imprevisibilidade no que deve ocorrer nas disputas, ou seja, o fã não saber, de antemão, quem vai largar na pole position ou vencer. Esses são os objetivos do novo regulamento.
O cenário no mercado de pilotos hoje é este: a Williams já fez o convite a Massa. E Massa dispõe do que não tinha e o levou a anunciar a aposentadoria, um carro provavelmente competitivo, sendo que agora até com algumas vantagens. Possível capítulo final da história: Massa permanece na Williams, depende apenas de si. E como terá tudo o que deseja...
Jenson Button, prestes a completar 37 anos, dia 19 de janeiro, foi convidado não só pela Williams como Mercedes, mas se mantém firme na decisão de deixar a F1.
AINDA MAIS ESTÍMULOS

Há vários atrativos na oferta da Williams a Massa, além de ele seguir numa organização bem estruturada. O piloto deve ter ouvido de Claire e O'Driscoll que o orçamento de 2017 será bem melhor que o dos últimos campeonatos. O modelo FW39-Mercedes poderá ser mais desenvolvido, como exigirão as novas regras. 
A razão é a economia que a Williams fará com o provável não pagamento a Mercedes pelo uso das unidades motrizes. Informação obtida com um profissional do relacionamento de Wolff dá conta de que ele aceitou a contraoferta de Claire e O'Driscoll para liberar Bottas, receber a unidade motriz grátis. Seu custo é de 16 milhões de euros (R$ 60 milhões).
Wolff pôde chegar a esse valor por ser o quanto deixará de pagar a Rosberg por ele deixar a F1, renunciar ao contrato assinado. Sem mencionar que esse era o básico. Havia prêmio por pole position, vitória e colocação final no campeonato. 
Motor Mercedes PU106A Hybrid 2014 (Foto: Reprodução/Youtube)Motor Mercedes sairia de graça para a Williams (Foto: Reprodução/Youtube)


Para a Williams, além de não ter de pagar a Mercedes, há a elevada contribuição de Stroll. Em resumo, dinheiro não será problema para a Williams, como foi nos últimos três anos. Seu orçamento era de pouco mais da metade dos 260 milhões de euros (R$ 980 milhões) investidos por Mercedes, Ferrari e RBR. 
Repare como tudo converge para atender às expectativas de Massa. Os recursos menos escassos permitem a Williams também apresentar um bom contrato para Massa. Provavelmente lhe foi oferecido a condição de Bottas em 2017, estimada em 6 milhões de euros (R$ 22 milhões), mais bônus.
E não acabou. A Williams deve contar com um engenheiro dos mais capazes na área de organizar ou mesmo reorganizar o departamento técnico, Paddy Lowe. Ele não entrou em acordo com Wolff sobre o valor do seu novo contrato. Claire poderia pagá-lo, agora. É até possível que Lowe aceite menos na Williams por se sentir desprestigiado na Mercedes, depois das três últimas campanhas arrasadoras da equipe.
Paddy Lowe, diretor técnico da Mercedes (Foto: Getty Images)Paddy Lowe, diretor técnico da Mercedes, pode acabar na Williams também (Foto: Getty Images)
Wolff não entende que a importância de Lowe é tamanha a ponto de concordar com os valores exigidos por esse experiente profissional inglês. Ele chegou na Mercedes, em 2013, quando a estrutura técnica já estava montada, sob a coordenação de Ross Brawn e Bob Bell. E Lowe não interfere na área de projetos, liderada por outro grupo, sob os cuidados de Aldo Costa.
Pois na Williams Lowe cairia como uma luva. Pat Symonds, atual diretor técnico, as 63 anos, pensa em se retirar da F1. É bem provável que Claire tenha exposto esse quadro a Massa para tentar convencê-lo a pronunciar, em breve, o seu “Fico!”. 
O piloto desembarca nesta sexta-feira em São Paulo. Não deverá falar sobre o seu futuro. Até porque Wolff já adiantou que a Mercedes não vai anunciar o companheiro de Hamilton antes do retorno ao trabalho de parte da escuderia, dia 3 de janeiro.
De novo: diante de como as peças se moveram nos últimos dias, as chances de Bottas ser apresentado como o companheiro de Hamilton, em 2017, e Massa como o de Stroll, são grandes.

RUIM PARA NASR

Se o provável “Fico” de Massa é animador para os interesses do Brasil na F1, um desdobramento do caso joga contra. A continuidade da carreira de Nasr torna-se, a princípio, mais difícil. O destino de Wehrlein está, agora, tudo dando certo com Massa, quase definido, correrá ao lado do sueco Marcus Ericsson na Sauber.
Sobram duas vagas, apenas, em aberto na F1, as duas da Manor. Seu ainda proprietário, Stephen Fitzpatrick, busca pilotos com importantes somas de patrocínio.
Felipe Nasr e Pascal Wehrlein no paddock do GP dos EUA (Foto: Getty Images)Felipe Nasr e Pascal Wehrlein concorrem à vaga na Sauber (Foto: Getty Images)
Por ironia da história, a necessidade de a Manor precisar de pilotos com bom dinheiro provém do fato de perder o décimo lugar entre os construtores, assumido pela Sauber. E foi Nasr o responsável pela conquista do nono lugar da escudeia suíça, com os dois pontos obtidos brilhantemente no GP do Brasil. O resultado garantiu a Sauber US$ 40 milhões (R$ 130 milhões) e deixou a Manor apenas com US$ 13 (R$ 42 milhões).
Para competir pela Manor, Nasr necessitaria, obrigatoriamente, de levar patrocinadores, dispor de pelo menos US$ 10 milhões (R$ 33 milhões) e hoje ele não conta com tudo isso. Se Nasr não conseguir se manter na F1 será uma perda para o Brasil. Ao que parece, vai demorar um tempo até o país gerar um piloto do seu potencial para crescer na competição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, ele é muito importante para nós