Atleta mantém objeto em consultório de fisioterapia e garante: "Quando olho para a bermuda, lembro do drama da recuperação, muito mais do que da hora do nocaute"
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O apego a bens materiais não faz parte da vida de Rodrigo Minotauro. Foi assim ao longo dos 17 anos de uma carreira laureada, banhada a reconhecimento do público, idolatria pelo mundo e, claro, a conquistas em eventos importantes, como Rings, Pride e UFC. Troféus e cinturões ele sabe de cor e salteado onde estão. A dúvida paira no ar quando ele é perguntado por luvas, blusas, shorts e outros itens de combates marcantes. De primeira, não soube responder. Parou... Pensou... Ameaçou dizer e... voltou à estaca zero. Foi necessário um estalo, um lampejo, para se lembrar de um de seus objetos favoritos: o short que utilizou no histórico nocaute sobre Brendan Schaub, no UFC Rio, em agosto de 2011.
- Está no consultório da Ângela (Côrtes), a minha fisioterapeuta. Eu coloquei em um quadro, que fica lá pendurado na parede - disparou.
Em uma carreira calcada por vitórias épicas, sobre adversários renomados, como Mirko Cro Cop, Mark Coleman e Dan Henderson, a bermuda utilizada contra Brendan Schaub parece apenas um artigo de uma coleção que tinha potencial para virar museu. Ali, naquele quadro adornando o consultório, está o short - autografado e com dedicatória - símbolo de uma superação pessoal e profissional. O objeto, que estimula os demais pacientes, sintetiza o esforço de um período delicado para o ex-atleta, às voltas com lesões na época.
- Quando olho para a bermuda, lembro do drama da recuperação, muito mais do que da hora do nocaute. O dia a dia é o mais difícil. Nocautear, subir na grade... Aquilo é uma fração. Os seis meses de rotina... Lembro da segunda cirurgia, estava tão atrasado com o tempo, em fevereiro, e a luta era em agosto. Entrei em uma piscina no meio da neve, meu cabelo congelava. Eu tirava o gelo e continuava trabalhando (risos). Eu ficava todo branco! Meus amigos não queriam que eu lutasse. Teve uma coletiva de imprensa no Brasil, em março de 2011, que o Schaub veio, e eu estava de muleta. Eu mancava. As pessoas falavam: "Esse cara vai lutar? Está maluco (risos)!"
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A bandeira do Brasil, cujo círculo do meio era o símbolo do Internacional - clube que na ocasião fez uma parceria com Minotauro - ele devolveu momentos depois da vitória a um torcedor. As luvas e a blusa, o ex-atleta não sabe onde estão - até que a fisioterapeuta avisa que guardou ambos. Ele sorri, pois sabe menos de suas coisas do que a doutora. E tem a certeza de que não haveria lugar mais seguro para deixar o short do que no consultório.
- A bandeira eu devolvi para um torcedor do Inter, a blusa está com a Ângela. A luva...ah, deve estar com ela também (risos). Aqui foi minha segunda casa, fiz 760 horas de fisioterapia. Eu tenho isso em um slide guardado - declarou Minotauro, que revelou guardar vídeos de treino dos bastidores do Pride.
Minotauro coloca a luta de Schaub no mesmo patamar dos confrontos que o fizeram uma lenda do esporte: vitórias contra Bob Sapp, Tim Sylvia e Cro Cop. A vitória por nocaute no primeiro round contra um adversário em ascensão não valeu cinturão, porém, virou símbolo de superação, palavra que o acompanha desde a infância, quando foi atropelado por um caminhão.
- Não foi uma luta de título, mas foi a minha história de superação. Foram três cirurgias, um ano e meio de muletas. Estou com calo na mão até hoje por isso. Foi uma recuperação dolorosa. Era o primeiro UFC no Brasil, minha luta de número 40, eram vários fatores importantes. O Schaub era mais jovem, tinha nocauteado o Cro Cop, era uma das promessas da categoria. O evento foi ao vivo para todo o Brasil, então essa luta foi importante para o MMA brasileiro, que explodiu e fez o pessoal pegar amor mesmo pelo MMA.
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Dos adversários - além de boas histórias para contar e vitórias para contabilizar - Minotauro afirma que nunca recebeu nenhum presente. A exceção é feita a Dan Henderson, que depois de vencê-lo no King of Kings, do Rings, mandou entregar três caixas de cerveja no quarto do hotel em que o brasileiro estava hospedado.
- No MMA a gente não tem o costume de trocar objetos como no futebol. Geralmente é por que são equipes rivais. Não tenho nada do Dan Henderson e nem do Randy Couture, dois dos caras que lutei e era muito fã. É muita adrenalina naquele momento, não é relaxado como em outros esportes. O pós-luta tem muita adrenalina também. A única coisa que ganhei foram três caixas de cerveja que o Dan Henderson mandou para o meu quarto. O Dan Henderson e eu nos dávamos bem. Eu fiquei puto (risos), mas parei para beber. O Babalu ficou chapado (risos). Rimos bastante e tomamos tudo!
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